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A

GATA FECHA

por GUSTAVO HENRIQUE

Sou boazinha, mas não sou besta

Se vacilar, a gata fecha

Quando eu amo, eu amo mesmo

Mas quando eu quero, viro seu pesadelo

(A Gata Fecha)

“E agora vem aí uma loirinha marrenta. E a gente vai brigar aqui hoje. Ela vai pintar o cabelo de preto, tenho certeza. Carlinha Alves!”. Assim dizia Priscila Senna, líder da Banda Musa, quando introduzia a vocalista Carlinha Alves como convidada no seu show. Depois de registrada, em 2012, no primeiro DVD ao vivo de Musa, essa performance se tornou um dos fenômenos definidores do brega recifense. A primeira canção que elas cantam juntas no DVD deve ter sido a mais repetida aquele ano - pelo menos na Região Metropolitana do Recife, que é o que importa. Se por acaso você ainda não sabe, os versos-que-provavelmente-todo-mundo-conhece “Galega / Se tu soubesse / O poder que a morena tem / Tu pintava o cabelo de preto / E ficava morena também” são o principal convite de “Loira ou Morena”, composição de Elvis Pires em que as cantoras pleiteiam qual das duas é a preferida dos homens, loira ou morena - o que, em determinados momentos da letra, parece também se tratar de “branca ou negra”. Não é uma coisa fora do comum ver duas mulheres disputando a atenção de um ou mais homens numa canção de brega. Ou numa canção qualquer. Mas também não é nem um pouco anormal ver essa situação se repetir em qualquer outro veículo midiático. Esses, construídos majoritariamente por homens. Dentro de uma sociedade patriarcal. O bom dessa performance de “Loira ou Morena” é que, como Carlinha e Priscila são mulheres de verdade e não mulheres inventadas por homens, elas estão por cima dessa história de rivalidade forjada. E sempre terminam a canção dizendo algo como “Já resolvi tudo - pintei meu cabelo de vermelho” e “Não importa, nós somos preferência nacional!”. Desconsiderando essa rivalidade, sutilmente.

Em 2012, Carlinha Alves dividia os vocais da banda Kitara com Rodrigo Mell. Foi nela que Alves, já conhecida do público que acompanha o brega de Recife, se tornou reconhecível por basicamente qualquer pessoa do Recife. E por uma proporção um pouco menor de pessoas no resto do Nordeste. Na Kitara, ela cantou outros versos-que-provavelmente-todo-mundo-conhece. “A casa caiu / A farsa acabou / Pra mim e pra ela / Jurou seu amor” são alguns deles. No ano seguinte, Carlinha saiu da banda para dar seguimento a um projeto solo com a mesma produtora, a RME Produções. Ao lado da vocalista, afastava-se também Elvis Pires, compositor, produtor e guitarrista. A saída causou comoção - principalmente no público de programas de TV locais como o Interativo, da TV Jornal e o Tarde Legal, da TV Nova Nordeste. Hoje, a cantora também é conhecida como Loira Marrenta. Você já deve saber por quê.

“EU JÁ CANTAVA O QUE EU ESCUTAVA, IMITAVA AS PESSOAS. DEPOIS ENTREI NA IGREJA, COMECEI A CANTAR HINOS”
Sentamos para conversar com ela na sede da RME Produções em Casa Caiada, Olinda. “Eita, ela é baixinha, da minha altura”, pensei. “Sim, menino, ela é uma pessoa normal, né. Ela é uma pessoa normal. Calma”. Eu tenho o costume feio de imaginar qualquer artista como alguém diferente de “pessoas normais”. Mas esse texto é sobre Carlinha.
Encontramo-na se preparando para começar a ensaiar para um show no dia seguinte. De short jeans e sandálias, pediu um tempo para deixar seu filho com alguém. Voltou para começarmos a entrevista comendo bolacha Maizena. “Que estranho. Parece que ela poderia ser uma prima minha”. (Observe que eu não consigo entender que ela é uma pessoa normal.) “Eu sou lá de Águas Compridas [bairro de Olinda]. Nasci lá e por conta do trabalho, depois, eu vim morar aqui em Olinda. Mais centro, né? E até hoje tô por aqui. Moro em Bairro Novo”, disse.

“Massa. E como foi que começou teu interesse por música?”. “Desde de que eu me entendo por gente, eu acho. Eu já cantava o que eu escutava, começava a imitar as pessoas. Aí depois eu entrei na igreja, comecei a cantar hinos.”. E não deixaria mais de cantar hinos. Quando quer se referir a alguma música no meio de uma fala, Carla não cita título ou compositor. Ela canta um pedaço. Foi assim que, momentos adiante na conversa, eu e minha colega Ana gelamos quando ela soltou “Por isso dizem que sou louca…”. (“Tá vendo que ela não é normal? Isso não é normal. Eu sei fazer isso? Não sei. Eu sou normal”) Para ela pareceu simples. Mas para dois apaixonados por música, ouvir alguém cantar de um jeito tão potente, bonito e casual, ao mesmo tempo, causa impacto. Mais do que na rotina da nossa conversa, na música a presença de Carlinha é potente. Vigorosa. Nisso ela não poderia ser minha prima.

Louca”, versão em português de “Loca”, lançada pela mexicana Thalía em 2005, se espalhou pelo Brasil na voz de Carlinha Alves com a banda Kitara. É o maior hino que ela já cantou até agora. Tem um gosto agridoce, porque traz o discurso de uma mulher que vive um relacionamento abusivo. Entregar-se a essa música estando consciente disso é como se entregar a um parceiro que não respeita os seus limites. Agridoce com um “agri” bem pesado.

 Dizem que sou louca 

 Fora de controle 

 Que você controla todos meus sentidos 

 E me afastei de todos, que nem ligo pros  amigos 

  

 Dizem que sou louca 

 Que meus movimentos estão dirigidos 

 Por seus pensamentos 

 E já não me importo com tudo que fazes 

 Que acredito, te perdoo, sempre volto 

 E que não mereço essas horas que me roubas 

 

 (Louca, Banda Kitara) 

“O que te faz escolher algo para cantar? O que te atrai mais numa música?”. “As que mais combinam comigo são as mais feministas, assim, que botam a mulher por cima. [cantando] “A casa caiu / A farsa acabou…”. Ou então declaração de amor - [cantando] “É amor, é amor, sempre”. Sempre ela [a mulher] dando um carão no homem, né - [cantando] “Não disfarce, meu amor, era mais fácil me dizer que acabou”. Saindo da atmosfera de “Louca”, as composições do novo projeto de Carla Alves, a banda Loira Marrenta, estão, vez ou outra, rejeitando o discurso alienador de um personagem masculino e abusador, como em “Só que Não” e “Atende Aí”. Não faltam também canções em que ela se afirma enquanto certa de si e determinada a desconstruir a imagem de “boa” ou “besta” que quer recair sobre ela e tantas outras mulheres. Isso já acontecia nos projetos anteriores da artista, mas no atual surge mais frequente e incisivo. Empoderamento, né, minha gente?!

Meu jeito carinhoso de ser 

Mas não se engane, 

eu não sou fácil de se prender 

Meu beijo é, mas se brincar 

Vou ficando furiosa e pode amargar 

Sou boazinha, mas não sou besta 

Se vacilar, a gata fecha 

Quando eu amo, eu amo mesmo 

Mas quando eu quero viro seu pesadelo 

 (A Gata Fecha) 

Vai me deixar  
Eu vou chorar 
Ai, que emoção 
Só que não

 
Vai me trair 
E vai partir

meu coração 
Só que não

 

 (Só que Não) 

Um dos aspectos fascinantes da obra da loira é a narrativa que as músicas que ela já cantou constroem quando observadas todas de uma vez. Tem histórias e personagens que se repetem, desaparecem e evoluem. Feito uma novela.

 “NA NOSSA
 SOCIEDADE MACHISTA,
 A MULHER É SEMPRE
 A MAIS PREJUDICADA,
 A QUE TODO MUNDO  REPREENDE MAIS
 NA EDUCAÇÃO” 

Em abril de 2016, um fã da cantora descobriu um perfil falso num site de prostituição com fotos de Carlinha, retiradas de seu perfis nas redes sociais. Segundo informações do portal Diário de Pernambuco, ela aparecia no perfil como uma transexual latina que oferecia serviços de massagista e prostituta. “Tu acha que, no geral, não é nem falando de artista ou não, nessa situação de roubar foto e vazar nude, por exemplo, a mulher está mais exposta a esse tipo de agressão do que o homem?”, perguntamos. “Com certeza. Até porque na nossa sociedade machista, a mulher é sempre mais prejudicada, mais… a que todo mundo repreende mais na educação, né? [Essa coisa de] “mulher pode, mulher não pode, homem pode…”.

Como em tantos outros espaços construídos através de relações sociais, dentro da indústria que sustenta quem trabalha com música brega em Pernambuco também tem o que homem pode e mulher não pode. “É porque a maioria dos donos de banda são homens. Mas agora está tendo muito mais sociedade com mulheres. Os donos em sociedade com a cantora. Então eu acho que abriu muito espaço para a gente, que é mulher cantora, de ficar à frente de tudo da banda. Organização, repertório, tudo.”, explicou. Conversando com ela ou com qualquer outro profissional da área, percebe-se facilmente que, de acordo com a hierarquia que separa dono e funcionários, a direção executiva fica a cargo de quem fica com a maior parte do lucro obtido com a banda - os donos - e não necessariamente com os artistas que estão gravando as músicas e fazendo os shows - funcionários.

“Eu não acho que fui impedida de fazer algo que queria por ser mulher na minha carreira… Acho que por não ter o cargo correspondente [a esse tipo de decisão]. Tipo, a pessoa é empresário, eu não sou. Então eu não tenho como vender show da banda. Eu sempre me mantive no meu quadrado. Até hoje, na verdade, mesmo sendo dona da Loira Marrenta, é o Márcio Pires que vende, é o Elvis Pires que faz as músicas, eu canto e faço outras coisas… Fico mais com a parte das meninas… A gente se divide assim. Mas eu nunca tive nenhuma restrição com os meus colegas, não. Eles sempre me deixaram livre para dar opinião.”

Quando fala em “parte das meninas”, ela se refere às meninas do balé que acompanha a banda, as “marrentinhas”. Carlinha é quem toma conta do figurino e da coreografia. Coincidência ou não, quem lê o último parágrafo sem saber disso entende que “a parte das meninas” é o que se puxa do senso comum como “coisa de mulher”. Para elas, cantar, costurar, desenhar, dançar; eles, criar, decidir, vender. Essa polarização não se aplica à carreira de Carla perfeitamente. Ela toma decisões executivas, além de criativas, sobre o trabalho da banda. A forma como as tarefas se dividem, no entanto, descobre o pano de uma estrutura de “divisão” das tarefas e do poder que é histórica tanto para a indústria cultural quanto para a sociedade em termos gerais.

“Tem coisas que a gente prefere deixar para não quebrar tanto a cabeça. Como a gente é artista, a gente quer estar um pouquinho livre de alguns compromissos para estar com a cabeça mais para cantar do que resolver problemas. Mas o que pode resolver, a gente tem livre arbítrio”. Não por ser mulher, mas por ser a pessoa que é, Carlinha não se interessa pela produção executiva tanto quanto pela sua “arte” em si. Outra mulher que quisesse mais a produção do que a própria “arte”, no entanto, receberia mais nãos tentando ser produtora do que receberia tentando uma oportunidade de cantora ou dançarina.

Oportunidade essa, aliás, que aparenta manter a mulher num lugar de maior vulnerabilidade. “Os homens confundem cantora ou dançarina até com outras coisas, né? Generalizam só porque ela tá ali em cima do palco, com uma roupa pequena”. E eu até acho preconceito. Beyoncé usa [roupa] bem menor, mas é legal, é ótimo, porque é de fora. Anitta também… Cada um tem sua personalidade em cima do palco. Tem o que ela quer passar, o que a pessoa quer passar.” Como uma boa artista do brega, para Carlinha, “o que ela quer passar em cima do palco” é um assunto estimado. Vê: “Alguém pode achar vulgar e tal, mas eu acho que é o jeito de ela se expressar, de que ela é poderosa e ela pode tudo. Para mim, ela pode tudo ali. Então quem gostar, goste; quem não gostar não goste [risos]”, argumenta. “Eu nunca sofri com esse tipo de machismo não, de alguém me confundir com alguma coisa… Já aconteceu de alguém achar que poderia querer alguma coisa a mais comigo por ser do meio artístico. ‘Não, ela é de banda, é cantora, então pode insinuar’. Aconteceu, mas nada que eu não pudesse controlar”.

A maioria das músicas que Carla já gravou foi composta por homens. Compositora opulente, a goiana Marília Mendonça é uma das poucas mulheres que a Loira Marrenta canta atualmente. Ainda que sugira um problema estrutural, esse fato não mexe com ela. No principal desses compositores, Elvis Pires, ela confia. “Parece que ele lê minha mente”. É costume das bandas de brega mais chegadas ao lado romântico não usar de duplo sentido nas letras e fugir, de maneira geral, da objetificação do corpo da mulher. “Na verdade, o princípio das músicas do Elvis sempre foi não fazer duplo sentido, indo pro romantismo ou contando o cotidiano das pessoas… ouvindo alguma frase ou algum tema que ele pega no Facebook, por exemplo”.

Também por querer quebrar o estigma de “baixaria” que persegue o brega e qualquer som que vem da periferia, Elvis e Carla prezam por não fazer música “que deprecie as mulheres”. “Até porque a gente que canta e é mulher acaba sendo referência. Tudo que a gente canta, a gente acredita naquilo que tá cantando, com muita verdade. Então se a gente recebe uma letra botando a mulher lá em cima, a gente pega aquela letra e canta como se tivesse vivendo realmente essa história. Preferimos essas músicas que valorizam mesmo. Como a Priscila Senna: [cantando] ‘Pintei o meu cabelo / Me valorizei’. Qual a mulher que não gosta dessa música quando pensa ‘dei a volta por cima?’”. Mesmo que não assuma a sua revolução - como acredito que Carla Alves faz - uma mulher sujeita a existir em um sistema machista é naturalmente levada a mudá-lo. Para sobreviver.

 “NÃO, MENINA,
VOCÊ NÃO VAI DANÇAR NÃO,
VOCÊ VAI CANTAR”

“Eu respiro brega, só escuto brega em casa, todo mundo sabe. Para não morrer essa coisa que a gente tem, que já nasceu com essa dor, desde pequena, a gente decidiu montar um novo projeto”, contou à apresentadora Dani Monteiro, quando participou do programa Interativo para comentar sua saída da banda Kitara.

A vivência em Águas Compridas, periferia de Olinda, impeliu a cantora para o gênero. Esse impulso, no entanto, nunca foi mal recebido ou deixou de ser estimulado.

Bem antes da Kitara, quando Carla era pequena, a cantora Eliza Mel, da banda Brega.com, foi morar na sua rua.“Eu ainda nem conhecia a pessoa, conhecia só as músicas, aí uma amiga minha me apresentou e eu fiquei sendo amiga dela. Pedi algumas dicas, fui dizendo a ela que eu tinha uma bandinha na escola… mas eu acho que na cabeça dela não ia tomar essa proporção que tomou hoje, né?”. “Nossa, tinha tanta banda antigamente, eu escutava todas. Companhia do Calypso, [banda] Calypso com Joelma eu também escutava muito… Tanto que eu conhecia já Priscila Senna [da banda Musa] e a gente só cantarolava as músicas de Joelma quando se encontrava [risos]”, lembra. “O mundo deu uma volta, a gente se desencontrou, depois se encontrou de novo e agora faz parte da mesma família”, continua.

Nos anos 2000, era permitido que os comícios políticos fossem acompanhados de atrações musicais contratadas pela campanha que oferecia o evento. Acompanhada da mãe em um desses comícios, Carlinha levantou a mão quando o vocalista da banda que tocou naquele dia perguntou quem gostaria de dançar no grupo. Chegando no backstage, ainda adolescente, ela encontrou uma amiga que se prontificou a dizer “Não, menina, você não vai dançar não, você vai cantar”. “Aí eu cantei, ele gostou, minha mãe foi lá procurar saber e aí entrei para essa banda”.

Carla tinha 14 anos e a banda era a Eclipse do Amor. As donas, duas professoras: Ilza e Edilza, que ainda não tinha experiência no ramo mas apresentariam a jovem à música profissional e a outros artistas. Um deles foi Elvis Pires. “Quando eu fui gravar uma música com a Eclipse, ele tava lá no estúdio, mas eu nem sabia quem ele era”. Outro foi Formiga, vocalista da banda Swing do Amor, expoente da fase romântica do brega pernambucano no início dos anos 2000, e fundador da Ritmo Quente, próxima banda da qual Carlinha participaria. “Eu lembro que quando eu era da Eclipse do Amor, eu sempre ligava para as rádios fingindo que era uma fã pedindo as minhas músicas [risos]. E eu sempre escutei rádio comunitária… Na minha veia, assim, acho que o brega já veio de nascença”. Aos 16 anos, Alves entraria para a Kitara, saindo aos 23.

Por mais que tivesse acabado de entrar na adolescência, trabalhar na primeira banda profissional implicava se comportar como uma mulher. A letra de “Garrafa de Champanhe”, versão de “Spanish Guitar” (Toni Braxton) e cantada por Carlinha na Eclipse, não nega: “Os meus olhos lhe dirão / O jogo de sedução / Estou louca para amar você / Me diz que eu sou tudo que você quer / Sou a mulher que sonhou / E que deseja pra sexo e amor”. “No começo, como eu era menor [de idade], sempre fazia as coisas com a minha mãe”, explica.

 “PELO POVO, 
 A GENTE 
 JÁ É 
CULTURA 
 HÁ MUITO
 TEMPO” 

“Do tempo que tu começasse para cá, sofresse alguma agressão machista mais grave?”. “Não. Machismo comigo diretamente nunca teve, teve mais preconceito por ser cantora de brega”. “Às vezes eu estou no mercado, aí alguém me vê, finge que não me reconheceu e fala ‘Ah, não gosto de brega’. Começa a falar mal do brega. Fingindo que não me viu, mas está falando para realmente eu escutar”.

Em 2017, em entrevista ao blog Social 1, a cantora Michelle Melo repercutiu a discriminação que os artistas do gênero sofrem e a ausência desses profissionais em festas que representam a cultura do estado de Pernambuco, como o Carnaval e o São João. Nessas festas, o brega não entrou até hoje - com exceção da recorrente participação da paraense Gaby Amarantos no palco principal da festa de Momo. O brega de Recife, adotado pela maioria da população e parodiado ou julgado pela outra parte todos os outros dias do ano, nada.

Na base dessa rejeição, o racismo e o elitismo que também negaram o samba, que negam o funk e encaram o movimento hip hop com um olho torto. Carlinha, que vive o estigma na pele, confirma. “Eu acho que quando o povo fala de um tipo de música, ele tem que ter um fundamento para poder [falar]. Porque às vezes generalizam. Mas tudo que vem da periferia, o povo de cima… fica meio difícil de aceitar. Porque não querem que Classe C vire A, né? Aí fica com receio, com medo”.

“Tu achas que excluir o brega recifense do Carnaval, do São João acaba sendo um desserviço à população?” “Com certeza. Porque pelo povo, a gente já é cultura há muito tempo. Porque cultura significa o quê? O que a população mais gosta, né?”. E quem vai dizer que não é?

 Com 
 as cantoras Priscila Senna e Michelle Melo,
 Edilson Silva e Eugênia Lima 
 na Assembleia Legislativa
 de  Pernambuco,
 em 2017 

Em abril de 2017, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) ordenou a primeira etapa da aprovação de um projeto de lei que inclui oficialmente o brega na lista de expressões artísticas consideradas pernambucanas. O projeto precisa ser aprovado em uma segunda discussão para seguir à mesa do governador Paulo Câmara.

Enquanto não chega o apoio do Estado, artistas como Carlinha seguem carreira independente, criando produtoras, fazendo bilheteria dos próprios shows quando não há contratante e gravando DVDs em casas lotadas.

Voltando da pausa que tirou do trabalho para cuidar do filho recém-nascido, Carlinha se prepara para criar repertório novo, lançar novas músicas e gravar um videoclipe “para ver se a gente consegue gravar o tão cobrado DVD”.

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