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Letícia Tomás: "Às vezes [eles] vêm falar com a gente para produzirmos shows e se surpreendem:

  • psonar
  • 14 de jun. de 2017
  • 3 min de leitura

A PWR Records é um selo pernambucano que tem como objetivo lançar trabalhos de artistas mulheres ou de bandas que tenham alguma mulher em sua formação. A gravadora surgiu pela parceria entre as estudantes e produtoras musicais Letícia Tomás e Hannah Carvalho. Conversamos com Letícia sobre o selo, música, produção e o enfrentamento ao machismo no cenário musical.

Letícia Tomás

S: Como foi que surgiu seu interesse por música?


LT: Desde pequena eu tive esse contato com música, eu tocava piano erudito. Mas aí eu parei porque eu achava que tudo que eu fazia era muito engessado. Eu toquei até os meus 17 anos, mais ou menos. Aí parei com a desculpa de que ia fazer o Enem e nunca mais voltei. Aí em 2014, eu conheci os meninos da [banda] Boogarins, que são bem amigos meus, aí foi convivendo com eles que eu voltei a me interessar por música.


S: E como você começou a produzir shows de bandas independentes?


LT: Eu comecei pelo Twitter. Eu falava tava com uns meninos lá do Rio de Janeiro, eles tinham uma banda chamada GorduraTrans. Aí eu convidei eles para fazer show aqui no Recife e eles disseram que era só ter o lugar que eles viriam. Isso foi mais ou menos em dezembro de 2015. Então passei uns dois meses tentando marcar uma data, foi quando eu conheci umas pessoas de Natal e Fortaleza que já produziam esse tipo de show. Fiz uma linha de contatos e esquematizei a turnê. Então em fevereiro de 2016, consegui o local e o show deles rolou.



S: A partir disso, você começou a produzir mais shows?


LT: Depois desse show, alguns meses depois, eu e uma amiga minha que produz junto comigo, Hannah Carvalho, nos inscrevemos no edital do Dia da Música e nosso projeto ganhou. A gente conseguiu uns dois mil reais para produzir um show independente e de graça. E então fizemos esse show em junho de 2016. Rolou esse intervalo entre fevereiro e junho sem produzir nada, mas depois do Dia da Música, a gente acabou produzindo shows todo mês. Ganhar esse prêmio foi um incentivo, porque deu uma grana boa para começar.


S: Você é uma das fundadoras do selo PWR Records, direcionado só para artistas mulheres. Como surgiu essa ideia?


LT: Foi uma ideia muito antiga. Eu tinha feito uma lista de Girl Bands, mas era uma coisa particular. Um dia, uma amiga minha jogou essa lista em um grupo e em cinco dias já tinham 300 bandas inscritas. O objetivo da lista era mostrar onde estão as mulheres na música brasileira. Então, um amigo me deu a ideia de criar um selo especificamente voltado para elas.


Selo PWR Records, criado por Letícia Tomás e Hannah Carvalho





S: Como se dá a construção de um selo musical?


LT: O selo originalmente vem junto com uma gravadora. A gravadora grava o material, mas ela tem vários selos que se divide por nichos… tipo a galera do Hardcore é um selo, a galera do Indie é outro selo. Só que agora, como todo mundo que é independente não tem grana, geralmente a banda grava, vai em um estúdio e grava sozinha ou faz os contatos pra masterizar e mixar o disco, aí vai até o selo e é ele que coloca nas plataformas digitais, faz a assessoria de imprensa, essas coisas.


S: Nesse tempo como produtora musical, como é sua relação com os produtores/artistas homens?


LT: É um saco, porque às vezes eu boto essa barreira em mim mesma… às vezes eu não quero falar com um cara só por ele ser um homem (risos). Mas aí agora eu estou metendo a cara e falando. Engraçado que na nossa página, uma galera do Sul às vezes vem falar com a gente para produzirmos shows deles aqui e quando eu mando meu perfil pessoal, eles se surpreendem: “Nossa, eu não esperava que fosse uma mulher”. Isso rola bastante. E nas reuniões, quando os meninos da [banda] Kalouv vão nos ajudar, os caras só discutem as coisas com eles. É meio que invisibilizar.


S: E de que forma você acha que essa situação poderia mudar?


LT: Eu acho que isso já está mudando. Bem devagar, mas está. Tenho umas amigas do Rio de Janeiro que estão produzindo também; em São Paulo, em Fortaleza… Então eu acho que a gente tem que meter a cara mesmo e fazer. Rola, por exemplo, esse negócio de fazer festivais só de mulheres e tal… eu não sou contra, eu acho válido, só que para mim essa não é a solução ideal, essa coisa de criar um mundo à parte só de mulheres. É muito mais válido tentar entrar nesse mundo musical, algo que já existe, do que criar outro, separar as coisas. Eu acho muito mais afetivo isso.


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O projeto Sonar foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso de Ana Carla Santiago e Gustavo Henrique, estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresentado em 2017.

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