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Katarina Nápoles: "Só entendi como o machismo seria um obstáculo na minha vida musical quando e

  • psonar
  • 18 de jun. de 2017
  • 5 min de leitura

A banda pernambucana Guma, formada em 2014, surgiu da vontade de quatro amigos aspirante a músicos a tocar um projeto musical sério para frente. O grupo é formado por Katarina Nápoles (vocal e sintetizador), Carlos Filizola (guitarra), Lucas Adelino (baixo) e Caio Wallerstein (bateria). Atualmente, a banda está gravando o seu primeiro disco. Entrevistamos a vocalista Katarina para saber mais sobre o projeto e suas referências musicais:


Katarina Nápoles

Katarina Nápoles



S: Como foi a formação da banda Guma?


KN: A formação de Guma começou com minha amizade com Carlos Filizola (guitarrista) quando a gente estudava na UFPE. Tínhamos um gosto musical muito parecido e, para além disso, uma vontade muito grande de fazer um projeto de música pra valer, então acabou sendo muito natural essa junção minha e dele. A partir daí, a gente chamou Caio e Adelino, que encaixaram perfeitamente no projeto, também por quererem colocar algo autoral pra frente.


S: Como foi o processo de partir de um grupo de amigos para um conjunto que funciona? Vocês sentem que a banda já tem um som individual?


KN: O processo, como eu disse, acabou sendo muito natural. Até para chamar Caio e Adelino, que já eram próximos da gente e tal... Descobrir um som individual acho que é um desafio toda vez que surge uma letra nova, uma música nova... A gente para e pensa no nosso conceito, que acaba circulando pelas coisas que a gente ouve e gosta muito. Então acho que a gente tem sim um som individual, mas sem vergonha de dizer que ele é muito influenciado pelas coisas que a gente escuta.


S: Falando de identidade e sonoridade, vocês sabiam o que estavam querendo desses termos na formação da banda?


KN: No começo mesmo, a gente não sabia de muita coisa além da vontade de colocar um projeto sério pra frente. Acho que esses termos acabaram ficando mais frequentes com o passar do tempo, com as gravações do disco... A gente tem pensado mais em sonoridade e identidade, tentando cada vez mais criar uma estrutura não necessariamente fechada, mas que faça sentido pra gente.


S: Vocês estão gravando um disco. Como veio a decisão de fazer isso?


KN: A ideia do disco surgiu depois que a gente viu que tinha pelo menos umas oito músicas prontas e já estávamos ensaiando elas há um tempo. Então acabou sendo natural essa decisão de gravar algo que compilasse toda essa produção e trabalhar em mais alguma música nova pra fechar um disco.


S: Como você descreveria o disco?


KN: Eu descreveria nosso disco como uma junção de letras nostálgicas e melodias em sua maioria bem dançantes. O CD tá bem "swingado", como a gente costuma chamar as músicas boas pra dançar. Mas, ao mesmo tempo, fala de amor, decepções, tristeza, etc... Acho que com ele, as pessoas vão sacar também um pouco da nossa identidade musical, que tem uma relação forte com o mar e as coisas que a gente gosta de escutar: Cidadão Instigado, Siba, Céu, Metá Metá, Radiohead...



Entrevista da Banda Guma para o programa UFPE Autoral, da Rádio Universitária.


S: Quem fez as letras do disco? E elas falam de quê? Todas as músicas têm letra?


KN: A maioria das letras são de Carlos. Até agora, pro disco, tem duas letras minhas só. Mas acho que todas as letras, minhas ou dele, tem muito isso que falei da pegada nostálgica... Coisas bem pessoais que a gente passou pro papel há um tempo atrás, até porque a maioria delas são antigas. falam muito de amor e decepções em geral.


S: Quando você decidiu investir numa carreira musical, sentiu que o machismo foi, de alguma maneira, um obstáculo nesse objetivo? Se sim, de que forma?


KN: Eu acho que eu só entendi como o machismo seria um obstáculo na minha vida musical quando eu conheci o feminismo. Porque na verdade, desde pequena, eu queria ser cantora, então levei muito tempo pra entender que não era simples assim. A começar pela área e depois pela condição de mulher que carrego. Hoje vejo que o machismo é determinante nessa área que quero atuar. Primeiro porque fui ensinada socialmente a ser apenas a cantora, nunca a mulher que escreve, cria as próprias músicas ou toca um instrumento (com exceção do meu pai, que me deu um violão quando eu tinha 10 anos). A mim, sempre é reservado o lugar de intérprete, quase nunca o de criadora, de produtora. E inclusive são lugares que tenho tentado gostar justamente pra me desconstruir também, aprender coisas que não me foram dadas facilmente. Outra coisa que a sociedade espera de mim também, como cantora, é que eu seja o sexy symbol da banda, a líder. E é um lugar que eu realmente tento fugir. Enfim, posso escrever uma lista imensa de coisas em que o machismo pode me tolher ou prejudicar de alguma forma... É foda.


S: Você é a única mulher no grupo. Você sente que há diferenças/ algum tipo de machismo no tratamento dos seus parceiros de banda com você?


KN: Sempre há. Acho que a diferença é que os meninos são caras muito abertos pra escutar meu lado no caso de reclamações em relação a me sentir oprimida ou silenciada. Eles sabem o lugar privilegiado que ocupam, então de certa forma há sempre um cuidado nesse trato, mesmo que errem. Inclusive desde que comecei a mergulhar mais no processo de produção do disco senti que fui bem recebida, minhas opiniões, etc. Mais um motivo pra nós, mulheres, estarmos mais de frente nesse processo tão importante.


S: Na sua opinião, o machismo acaba inibindo mulheres de iniciar uma carreira musical? Qual seria a solução para esse problema?


KN: Eu acho que quem quer muito iniciar uma carreira musical não pensa exatamente no machismo. Acho que ele não é determinante pro início da carreira de alguém, mas ele com certeza vai ser um obstáculo no meio do caminho. Uma das coisas que podem ajudar é o Governo abraçar mais projetos para formar e divulgar musicistas mulheres. Projetos de incentivo de formação por exemplo, cursos gratuitos de instrumento para mulheres... Tenho visto muito projetos de divulgação de mulheres da música e já consigo perceber a diferença de hoje pra quando eu era criança. Na minha época tinha umas duas cantoras brasileiras que passavam na MTV e deviam ter um monte tentando ganhar a vida com isso mas que eram invisibilizadas. Acho que esses projetos que surgiram pra divulgar exclusivamente nossos trabalhos são mais do que importantes. E [os projetos] não têm que acontecer só no mês da mulher não. Tem que ser o ano inteiro.



S: Quais artistas mulheres (musicistas, poetisas, desenhistas, etc) que te inspiram e que você recomenda?


KN: Tenho uma lista enorme de mulheres que me inspiram todos os dias, mas acho que as que mais influenciaram em que eu sou hoje são Céu, Juçara Marçal, Tulipa Ruiz, Gal [Costa], Elis [Regina], Alicia Keys, Amy Winehouse, Rupi Kaur e Marjane Satrapi.


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O projeto Sonar foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso de Ana Carla Santiago e Gustavo Henrique, estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apresentado em 2017.

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